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trompa se apresenta #2: tromp​í​stas v​ã​o ao banco (ao vivo centro cultural santanter)

by trompa

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não há nada com o que não se surpreender.

tudo é extraordinário na ordinária vida dos trompístas. portanto, não seria diferente com o presente registro de uma apresentação da agremiação de música popular trompa.

após quase dois anos de silêncio, às vinte e uma horas do vigésimo nono dia do primeiro mês do ano de 2016, a agremiação subiu ao palco do pomposo centro cultural santander para acabar com tudo o que é lógico, prático, o ódio, os juízos e tudo o que requer esforço, em favor do pacificado estado de espírito que torna tudo igual e sem importância. mal sabiam os trompístas, os presentes no recinto e os habitantes do porto dos casais que aquele dia ficaria para sempre talhado na memória da capital gaúcha.

ao ser convidada para performar no encerramento de uma feira gráfica independente, a agremiação sentiu-se acolhida por fazer parte de um evento que, a seu ver, entende, assim como ela, que precisamos de coisas fortes, precisas e para sempre além do entendimento, que lógica é complicação, que a lógica estará sempre errada. mas a trompa é política. o trompísta, um radical oponente à exploração. a performance, destruição do mundo de ideias burguês. a canção abraça e embaraça e assim, mesmo acolhidos pela feira, os trompístas sentiram o horror: o centro cultural é mantido por um banco.

sem pestanejar, os perfomadores aceitaram o convite. a trompa é uma armadilha.

durante os dias que antecederam a apresentação, os trompístas secretamente criaram um plano para que, ao passo em que levassem às pessoas seu culto de invalidação da realidade, também deixassem claro sua posição em relação à instituição mantenedora do estabelecimento e à arte em geral.

a trompa vaga pela noite e é consumida pelo fogo.

tomados pelo ímpeto de levar a um novo patamar sua busca pela desordem natural e irracional, os trompístas instalam artefatos explosivos em diversas agencias bancárias, programados para explodir pouco depois do fim de sua performance.

chegado o momento da apresentação, que seria gravada para um lançamento póstumo da agremiação, os trompístas, cientes das possíveis conseqüências de seus atos, atuaram nervosos, em prática erráticos, em espírito gígantes, jamais hesitantes. ao final da apresentação, em êxtase, os presentes vibram, os performadores sorriem: a noite será longa.

reunidos em um local desconhecido, os performadores da agremiação esperam ansiosos pelo tremor das explosões e o caos que seguiria.

fracasse outra vez.

os tremores e o caos vieram, mas não resultado dos explosivos e sim de outra explosão: a atmosférica, que resultou na tempestade mais destrutiva dos últimos tempos na capital gaúcha. junto às árvores, janelas e telhados arrancados, os carros virados, a energia elétrica subtraída, os barcos afundados, as ruas fechadas e os explosivos inutilizados, também fora destruído o registro da performance que antecedeu o fenômeno climático. embora felizes por vivenciarem a urgência de um momento tão belo, os trompístas não puderam deixar de lamentar a perda do documento. mas a história não se encerra aqui.

fracasse melhor.

meses depois, um funcionário não identificado do centro cultural onde realizou-se a fatídica performance da trompa fez uma descoberta: o sistema de monitoramento da segurança do local também registra, além do video, o audio do ambiente. ciente do rotineiro procedimento de destruição de registros recentes sem ocorrências anormais, o funcionário em questão, em um movimento ousado, conseguiu penetrar à sala de segurança e, com um pendrive ordinário, roubar o audio do dia da apresentação.

junto com uma nota em que dizia que a abstração inútil da agremiação havia mudado profundamente a sua forma de ver o mundo, o trabalhador deixou o artefato portátil de armazenamento de dados na caixa de correspondências da residência de um dos trompístas.

o audio, embora de qualidade não muito satisfatória, foi tratado, mixado e transformado no presente registro.

a performance da trompa é um gesto. cada palavra, cada canção, cada movimento diz apenas uma coisa: que esta humilhante era não obteve sucesso em ganhar nosso respeito.

um rugido de tensas cores e entrelaçamentos de opostos, de todas as contradições, grotescos, inconsistências: vida.

trompa é nada.

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credits

released April 29, 2016

performado, significado, mixado e masterizado pela agremiação de música popular trompa. pelo fim da terceirização de nós mesmos.
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gravado pelo sistema de monitoramento de segurança dos capitalistas.
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roubado por um trabalhador acordado.
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registro fotográfico incrível por alice gressler.

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