a canção ainda não composta, mas já de coração partido.
toda sociedade que se construa sempre terá seus limites e, para além dos limites de qualquer sociedade, os trompístas - vagabundos, indisciplinados e heróicos, aqueles que não podem viver sem planejar novas e terríveis rebeliões - vagarão, com seus pensamentos selvagens e virgens.
assim, logo em seguida ao seu maior, mais abrangente e mais exitoso ritual de anulação da lógica, da ordem e de tudo que é prático em favor do pacificado estado de espírito em que tudo é igual e nada tem importância, no início do fatídico ano de dois mil e dezesseis, o porto dos casais, capital do grande rio sulista, se fez pequeno demais para um dos trompístas.
"estou indo pra brasília, neste país lugar melhor não há", disse, e deixou para trás todo o marasmo da província para sentir no seu sangue o nada que tristan tzara lhe deu.
e, vítima da geografia, como sempre, a agremiação seguiu, carregando em cada performance um pouco de cada um de seus trompístas subtraídos, certos de que, se tudo é um, de alguma forma, como as veronicas, todos os trompístas do mundo estão conectados.
mas, como previsto por um popular crooner pauistano, o mundo dá voltas e, tempos após sua partida, o trompísta em questão retorna ao porto dos açorianos para uma breve visita aos velhos companheiros de agremiação.
a trompa, diante de tal notícia, não vê outra possibilidade que não se reúnir para uma celebração. porém, ao contrário do que se imaginaria, o trompísta subtraído escolhe assistir ao ritual, em vez de juntar-se à agremiação e, assim, como uma consciência que se desprende do inexistente corpo sólido e enxerga-se de fora, o trompísta se torna outro de um mesmo, sendo a trompa um todo coração. juntam-se ao ritual aqueles que celebram não à agremiação, o trompísta ou todos os que viveram naquele recinto naquela determinada ocasião, mas sim o eterno caminho da libertação. todos ali eram amantes. não de um ou de outro, mas do amor que todos somos quando em união.
a performance, com forte carga emocional, é serena e imprecisa, frágil e acolhedora, sutil e poderosa.
na língua francesa, "tu me manques" é o equivalente ao português "sinto sua falta". porém, poderia ser traduzido como "você está faltando de mim". e é desta forma que a agremiação de música popular trompa se sente em relação à seu inusitado espectador daquela noite: parte sua que se espalha pelo mundo, mas que sempre será integrante de um naipe muito maior do que o segundo instrumento mais agudo da família dos metais.
tu nous manques.
in the slint way.
credits
released June 9, 2017
performado, significado, assistido, gravado, mixado e masterizado pela agremiação de música popular trompa. pelo fim da terceirização de nós mesmos.
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